O novo pré-sal brasileiro
- Paulo Corner

- 23 de out.
- 5 min de leitura
Análise técnica e energética da nova fronteira de exploração do Brasil

Introdução
A exploração de petróleo em águas ultraprofundas consolidou o Brasil como um dos líderes mundiais em engenharia offshore. Desde a descoberta do pré-sal, em 2006, o país avançou significativamente em tecnologia de perfuração e produção em grandes profundidades. Em 2025, a Petrobras deu início à perfuração do primeiro poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial, entre o litoral do Amapá e o norte do Pará. A operação representa a abertura de uma nova fronteira energética, considerada essencial para garantir a continuidade da autossuficiência petrolífera nacional e manter a competitividade global do Brasil no setor energético.
O que é o pré-sal brasileiro localizado na Bacia de Campos e Bacia de Santos
A camada do pré-sal refere-se a reservatórios de petróleo e/ou gás localizados abaixo de uma espessa camada de sal, sob águas profundas ou ultraprofundas. No Brasil, são famosas as bacias de Bacia de Santos e Bacia de Campos.
Esse tipo de reservatório tornou-se um dos pilares do setor energético brasileiro nos últimos anos: produção em escala, tecnologia de offshore, investimentos elevados.
A expressão “pré-sal brasileiro” captura, assim, não somente a geologia, mas também o modelo de exploração, as licenças, os marcos regulatórios (como o regime de partilha do petróleo), e as expectativas de que essas reservas assegurem energia, arrecadação e desenvolvimento.
Mantendo a visão tradicional valorizadora do passado: foi este modelo de “camadas profundas + sal” que tornou o Brasil protagonista mundial em petróleo offshore. E agora, a chave é: até quando essas reservas manterão seu vigor e como o país se prepara para as fronteiras seguintes
Caracterização Geológica do Pré-Sal Campos x Santos e a Margem Equatorial
O termo 'pré-sal' designa os reservatórios de petróleo e gás natural localizados abaixo de uma extensa camada de sal, com espessura variável entre 1.000 e 2.000 metros, e sob lâminas d’água que podem ultrapassar 2.500 metros. Esses reservatórios são formados por rochas carbonáticas altamente porosas, capazes de armazenar grandes volumes de hidrocarbonetos. Atualmente, o pré-sal responde por cerca de 78% da produção total de petróleo no Brasil, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A Margem Equatorial, por sua vez, compreende um conjunto de bacias sedimentares costeiras que se estendem do Amapá ao Rio Grande do Norte. Entre elas, destaca-se a Bacia da Foz do Amazonas, que apresenta semelhanças geológicas com as bacias africanas do Atlântico Ocidental, onde foram registradas descobertas expressivas de petróleo nos últimos anos.
Figuras 1 e 2: Mapa da Margem Equatorial Brasileira (espécie de ilustração recomendada) e Mapa do Pré Sal Bacia de Campos e Bacia de Santos


Fonte: Petrobras / EPE (2024).
A Bacia da Foz do Amazonas
A Bacia da Foz do Amazonas está localizada a aproximadamente 160 km da costa do Amapá e cobre uma área superior a 50 mil km². Trata-se de uma região de águas ultraprofundas, com lâminas d’água que variam entre 2.000 e 3.000 metros. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da ANP indicam um potencial estimado entre 5 e 10 bilhões de barris equivalentes recuperáveis. Caso confirmadas, essas reservas poderiam elevar significativamente o volume total de petróleo disponível no país.

O Potencial Econômico e Tecnológico das reversas da Margem Equatorial
A Petrobras planeja investir cerca de US$ 3 bilhões até 2028 na fase exploratória da Margem Equatorial. O cronograma prevê a perfuração de 15 poços, dos quais seis localizam-se na Bacia da Foz do Amazonas. Se as reservas forem confirmadas, a produção comercial deve ter início entre 2032 e 2033, consolidando a região como a principal fronteira energética do Norte brasileiro.
A operação exige alta complexidade tecnológica: perfuração em águas ultraprofundas, sistemas de monitoramento ambiental contínuos e integração logística com portos e bases de apoio localizadas no litoral do Norte e Nordeste. O custo de extração estimado para esta bacia é de US$ 40 a US$ 50 por barril, superior ao do pré-sal consolidado (US$ 30), mas com potencial de redução à medida que a infraestrutura se desenvolva.
Desafios Ambientais e Regulatórios
A região amazônica é reconhecida por sua sensibilidade ambiental. O licenciamento da Foz do Amazonas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi um processo extenso e criterioso, que envolveu análises sobre dispersão de óleo, dinâmica das correntes e proteção de comunidades tradicionais. A licença concedida em 2025 prevê condicionantes rigorosas, como a presença permanente de embarcações de resposta rápida e o monitoramento via satélite durante toda a fase de perfuração.
O governo federal defende que a Margem Equatorial é compatível com os compromissos de transição energética, desde que explorada de forma responsável. No entanto, especialistas e organizações ambientais alertam para o risco de acidentes em uma região onde as condições oceanográficas e a biodiversidade exigem protocolos especiais de segurança.
Brasil e o Petróleo: Consumo, Importação e Produção (2022–2024)
Este relatório apresenta os dados consolidados sobre o consumo de petróleo, a importação de petróleo bruto e a produção nacional de óleo bruto no Brasil entre 2022 e 2024. Os números são expressos em milhões de barris por dia (Mb/d).
O Brasil mantém ampla autossuficiência em petróleo bruto, com produção próxima de 3,4 milhões de barris por dia.. O consumo interno de derivados cresce de forma moderada, refletindo aumento da demanda doméstica.. As importações de petróleo bruto permanecem estáveis, representando menos de 10% da produção nacional.. O cenário confirma a relevância estratégica do pré-sal brasileiro e a consistência do parque de refino nacional.
Considerações Finais
A exploração da Bacia da Foz do Amazonas pode redefinir o futuro energético do Brasil. Trata-se de um projeto de longo prazo, com alto potencial econômico e científico, mas também com desafios ambientais e sociais significativos. A consolidação dessa nova fronteira dependerá da capacidade do país em equilibrar crescimento econômico, inovação tecnológica e sustentabilidade. Se conduzido com transparência e rigor técnico, o projeto poderá consolidar o Brasil como referência global em exploração offshore responsável.
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP). Dados Técnicos da Margem Equatorial. Rio de Janeiro, 2024.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Avaliação de Potencial Exploratório Brasileiro. Brasília, 2024.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME). Relatório de Projeções Energéticas 2025-2035. Brasília, 2025.
INFOMONEY. Petrobras recebe aval para estudar Foz do Amazonas. São Paulo, 2025.
CNN BRASIL. Perfuração na Foz do Amazonas já começou, diz Petrobras. Brasília, 2025.
IBAMA. Licenciamento Ambiental de Atividades Offshore - Foz do Amazonas. Relatório Técnico, 2025.
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) — Anuário Estatístico 2025




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